Púlpitos como palanques ou palanques como púlpitos
Perguntou-lhes ele: De quem é esta imagem e inscrição? Responderam: De César
Então lhes disse: Dai, pois, a César o que é de
César, e a Deus o que é de Deus
Vivemos ultimamente uma guerra sem precedentes na política, não somente na brasileira, tão acirrada e provocada por intolerâncias de todos os níveis, uma polarização entre os que se dizem de esquerda e direita, não os cidadãos que desejam um país melhor, pacificado e mais justo, mas os que são arrastados por discursos inflamados de indivíduos sem escrúpulos, tentando a todo custo arrastar o maior número de pessoas para si mesmos, para seus projetos de poder e ódio.
As mídias sociais estão cheias de falsas notícias, recortes sem nexo algum, mas que caem como uma bomba a todo instante nas visualizações da massa. Incitando ainda mais ódio e rancor a quem não tem os mesmos ideais ou conceitos. Infelizmente, até a chamada grande mídia, algumas vezes, tem entrado neste jogo insano de ataques a tudo o que não está de acordo com suas tendências ideológicas.
Colegas de trabalho, membros de uma mesma família e amigos discutem como se fossem inimigos, não há espaço para discordância sem xingamentos e afrontas. Todos bradam e invocam para si a democracia, mas não suportam oposição sem ofender a integridade moral e, infelizmente, até a física de quem discorda das suas opiniões.
Mas nas religiões, principalmente nas cristãs e nas evangélicas, tem sido bem pior. Locais onde as pessoas sempre buscaram por conforto espiritual e paz interior, uma comunhão com Deus e com o próximo, tornaram-se verdadeiros campos de batalha, discordâncias e inimizades. Para piorar, líderes de denominações e pastores, escolheram um candidato como sendo o “messias prometido” e demonizaram qualquer um que se atrevesse a não votar em seus candidatos. Ameaçados de expulsão por terem sido infiéis, oprimidos e sem espaço, alguns calaram-se enquanto outros saíram de suas congregações para não sofrerem mais violência psicológica.
O cúmulo do absurdo ocorreu quando pastores dos púlpitos que deveriam pregar e ensinar a palavra de Deus, faziam gestos imitando armas, em alusão ao que apregoava seu candidato, o suposto messias. Como se não bastasse, ao perderem as eleições, esbravejavam contra todos os que votaram no atual presidente Lula. Os nordestinos foram duramente criticados, xingados e chamados de preguiçosos, povo acostumado a viverem de migalhas, e um determinado pastor disse serem inimigos dele, da igreja e de Deus.
Jamais vi em toda a minha vida, tamanha falta de bom senso, coerência e humanidade, isto para não dizer cidadania e respeito a democracia. Explicação para tanta insanidade, talvez seja por arrogância, vergonha de terem “profetizado” que o Deus deles daria vitória ao seu candidato, mas como foram derrotados e humilhados diante de todos, inclusive de suas congregações, mostrando que, ou são falsos profetas, ou o Deus deles é fraco, ou então o Deus verdadeiro, a quem demostraram que não servem, resolveu dar a presidência do país ao outro, pois Deus é Deus e não tem que dar satisfação a ninguém.
Creio que aprendemos uma grande lição: a democracia de um país não se faz de fundamentalismo, mas de educação e, quando Jesus Cristo disse: “dar a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus,” estava prevendo que seus discípulos não deveriam confundir o reino dos céus com o reino dos homens. Qualquer membro de qualquer religião, como cidadão brasileiro, poder ser votado e votar de acordo com a constituição, isto é democracia. Porém, deve ter plena consciência de que a igreja, como corpo de Cristo, deve conduzir seus membros a Deus e não a um falso messias, que aliás, está mais para anticristo.
(*) Carlos Alberto Almada pastor
da Igreja Projeto de Deus - Bacharel em
Direito - Escritor e Secretario Municipal de Assunto Religiosos da Prefeitura de Belford Roxo - RJ
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